Os desastres naturais continuam a desafiar comunidades ao redor do mundo, expondo fragilidades em sistemas de gestão, infraestrutura e planejamento urbano. No Brasil, as enchentes de 2024 no RS trouxeram uma nova dimensão a essa realidade, revelando a força destrutiva de eventos climáticos extremos e as consequências de décadas de infraestrutura insuficiente e má gestão territorial.
Cidades submersas, populações deslocadas e prejuízos econômicos astronômicos foram imagens marcantes do desastre. Especialistas alertam que tais eventos se tornarão cada vez mais frequentes e intensos, impulsionados pelas mudanças climáticas.
No Enegep 2024, pesquisadores e profissionais apresentaram reflexões fundamentais sobre as vulnerabilidades humanas diante desses cenários, bem como as estratégias que podem preparar comunidades e reduzir os impactos no futuro.
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A magnitude das enchentes de 2024 no RS
As enchentes que assolaram o estado em 2024 foram consideradas um marco na história climática do Brasil. Walter Collischonn, especialista em hidrologia da UFRGS, destacou que as chuvas acumuladas — mais de 700 mm em cinco dias em áreas críticas da bacia do Guaíba — foram de proporções históricas, comparáveis a eventos como o furacão Harvey nos EUA.
A geografia única do Rio Grande do Sul, com suas planícies que funcionam como “esponjas naturais”, desempenhou um papel crucial na contenção parcial dos impactos. Sem essa característica, cidades como Porto Alegre poderiam ter enfrentado inundações de até oito metros. No entanto, esse benefício natural foi drasticamente reduzido por problemas de infraestrutura e gestão.
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Falhas estruturais e o aumento dos impactos
Embora o estado conte com defesas naturais, elas foram insuficientes para conter a devastação causada pelas chuvas. Collischonn apontou falhas graves em sistemas de controle, como diques incompletos, comportas quebradas e bombas de drenagem inoperantes, que permitiram a inundação de áreas urbanas que deveriam estar protegidas.
Outro agravante foi a ocupação desordenada de áreas inundáveis, incentivada por políticas urbanas permissivas. Esse fator não apenas ampliou os impactos econômicos e humanos, como também dificultou a resposta às cheias.
A força destrutiva do evento foi intensificada pela quantidade de sedimentos e troncos transportados pelas águas, fruto de deslizamentos em regiões de encosta. Esse material aumentou a velocidade e o impacto das enchentes, resultando em danos significativos às infraestruturas urbanas e no deslocamento de centenas de famílias.
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Mudanças climáticas e os desafios do futuro
Collischonn alerta que as mudanças climáticas estão tornando eventos extremos, como as enchentes de 2024 no RS, cada vez mais frequentes e intensos no Brasil. Esse cenário exige atenção especial ao planejamento estratégico e investimentos em infraestrutura resiliente, especialmente em regiões vulneráveis, como a bacia do Guaíba.
Sem ações concretas, tragédias semelhantes podem se tornar uma constante, ameaçando comunidades vulneráveis, a economia regional e o sistema logístico do país.
A logística humanitária em desastres: preparação e resposta
Além das questões estruturais, as enchentes de 2024 evidenciaram os desafios das operações humanitárias em crises dessa magnitude. Adriana Leiras, especialista em logística humanitária, destacou durante o Enegep que o termo “desastre natural” é frequentemente inadequado, pois muitas vulnerabilidades são resultado de ações humanas e podem ser evitadas.
Ela apresentou o ciclo das operações humanitárias, composto por cinco fases essenciais:
- Prevenção: medidas para evitar que o risco se instale.
- Mitigação: reduzir os impactos de desastres já estabelecidos.
- Preparação: planejar ações para cenários de crise.
- Resposta: reagir rapidamente durante o evento.
- Recuperação: reconstruir áreas afetadas e retomar a normalidade.
Adriana também destacou a importância de tecnologias emergentes, como drones, big data e inteligência artificial, que vêm aprimorando a capacidade de monitorar e responder a crises em tempo real. No entanto, desafios como a dependência de doadores e a coordenação eficiente continuam sendo barreiras significativas para operações eficazes.
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Planejamento nacional para gestão de desastres
Adriana Leiras lidera o desenvolvimento do primeiro Plano Nacional de Proteção e Defesa Civil, que será uma referência estratégica para a gestão de riscos no Brasil nos próximos 10 anos. A iniciativa integra esforços de 14 ministérios e centenas de municípios, destacando a importância da colaboração entre governos e comunidades para enfrentar futuros desastres.
Segundo Adriana, o sucesso desse plano depende da participação ativa de todos os envolvidos, desde autoridades públicas até a sociedade civil. “A gestão de riscos é uma responsabilidade compartilhada”, concluiu.
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Lições para um futuro mais resiliente
As enchentes de 2024 no Rio Grande do Sul foram um alerta crucial para a necessidade de repensar as estratégias de planejamento urbano, infraestrutura e resposta a desastres no Brasil. A combinação de eventos climáticos extremos, falhas estruturais e ocupação desordenada ampliou os danos, mas também trouxe à tona oportunidades de mudança. Investir em planejamento estratégico, tecnologias avançadas e políticas de prevenção pode evitar que tragédias semelhantes se repitam.
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