POLI USP PRO
  1. Blog
  2. Post

Neoindustrialização no Brasil demanda sustentabilidade e cooperação 

Isabella Holouka

Publicado em

6 minutos de leitura

A sustentabilidade não é mais apenas um objetivo de longo prazo – ela se tornou uma necessidade imediata para o futuro da indústria e da economia. Nesse contexto, a neoindustrialização surge como uma estratégia essencial para o Brasil.  

Este foi o tema central de uma mesa-redonda realizada no Enegep 2024, com a participação dos especialistas Celso Pansera, presidente da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), Francisco Lima, professor da Universidade Federal de Minas Gerais, e Francisco Duarte, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Eles discutiram como o país pode integrar sustentabilidade e cooperação no processo de modernização industrial, alinhado com os desafios globais. 

Neoindustrialização no Brasil foi tema de mesa-redonda no Enegep 2024, evento que contou com o apoio da POLI USP PRO.

Leia mais: Indústria 4.0: Como superar desafios na gestão de cadeias de suprimentos com a tecnologia 

O papel da sustentabilidade na neoindustrialização 

O debate começou com Celso Pansera, que destacou a urgência de o Brasil investir em uma indústria mais resiliente e sustentável. Segundo ele, o cenário global – impactado pela pandemia, pelas crises geopolíticas e pelas mudanças nas cadeias de suprimentos – revelou a necessidade de autonomia industrial.  

“Descobriu-se que, em momentos de crise grave, os países precisam ter autonomia para a produção de bens essenciais dentro de suas fronteiras,” afirmou Pansera, ressaltando que a neoindustrialização precisa ser vista como uma resposta estratégica a essas crises. 

Pansera também apresentou o programa de investimentos do governo brasileiro, que prevê R$ 342 bilhões até 2026 para fomentar a inovação, a transformação digital e a sustentabilidade nas indústrias nacionais.  

“É um programa ambicioso do tamanho do Brasil”, declarou ele, destacando que a meta é modernizar o setor produtivo e prepará-lo para os desafios futuros. Ele ainda reforçou a importância de manufaturas com alto valor agregado, sugerindo que a integração de serviços com a indústria é uma tendência irreversível no novo cenário econômico global. 

Leia mais: Gestão de riscos e recursos é essencial para líderes de projetos  

Neoindustrialismo sustentável: repensando o modelo econômico 

Em seguida, Francisco Lima trouxe uma crítica incisiva ao modelo econômico tradicional, que ele considera insustentável. Ele explicou que o crescimento econômico nas últimas décadas tem sido baseado em uma lógica de exploração de recursos naturais, o que gera impactos negativos tanto para o meio ambiente quanto para a sociedade. “Mesmo nos países desenvolvidos, o trabalho não faz sentido; as pessoas estão alienadas”, afirmou Lima, ressaltando a importância de repensar as relações de trabalho, produção e consumo. 

Lima também defendeu que o desenvolvimento sustentável não deve ser apenas um crescimento quantitativo, focado em aumentar o PIB e a produção de bens materiais, mas sim um crescimento qualitativo, que leve em conta a preservação ambiental e a melhoria da qualidade de vida. “Precisamos sair da lógica da competição e abraçar a cooperação como uma forma mais eficaz de conduzir o desenvolvimento econômico,” disse ele, reforçando que é necessário integrar a sustentabilidade em todas as etapas da cadeia de valor. 

Para Lima, o Brasil tem um papel estratégico a desempenhar nesse cenário, uma vez que possui recursos naturais abundantes e uma matriz energética mais limpa em comparação com outros países. Ele sugeriu que o país deveria focar no desenvolvimento de cadeias produtivas locais e na criação de arranjos industriais que combinem tecnologia, inovação e respeito ao meio ambiente

Leia mais: Automação industrial é oportunidade para indústrias e profissionais 

Economia da funcionalidade e da cooperação: uma nova abordagem para a indústria 

Francisco Duarte finalizou o debate apresentando o conceito de economia da funcionalidade e da cooperação como uma alternativa ao modelo industrial tradicional. Segundo Duarte, a economia atual, que se baseia na obsolescência programada e na venda de produtos descartáveis, precisa ser substituída por um sistema que priorize a durabilidade e a utilidade dos produtos. “O que importa no produto é a utilidade e o serviço que ele presta”, explicou ele. 

Um exemplo prático trazido por Duarte foi o caso de uma empresa francesa que produz scooters com durabilidade programada, onde a ideia não é vender o produto, mas sim alugá-lo, prolongando sua vida útil e reaproveitando suas peças. “Ao invés de vender o produto, a empresa aluga as scooters e mantém a propriedade, prolongando sua vida útil”, contou ele, sugerindo que esse tipo de modelo pode ser uma solução viável para enfrentar a obsolescência programada e reduzir o consumo de recursos naturais. 

Duarte também destacou a importância da cooperação entre empresas, consumidores e o poder público, argumentando que essa colaboração é essencial para a construção de uma economia mais sustentável. “Confiança é o recurso imaterial mais difícil de ser construído, mas é essencial para o sucesso de uma economia baseada na cooperação,” concluiu. 

Leia mais: 10 Erros Comuns na Gestão de Projetos e Como Evitá-los 

O futuro da neoindustrialização no Brasil 

O consenso entre os palestrantes foi que as indústrias brasileiras precisam passar por uma transformação profunda, integrando sustentabilidade, inovação e cooperação. O país tem uma oportunidade única de se reposicionar no cenário global, aproveitando suas vantagens competitivas, como a biomassa e a energia limpa, para desenvolver uma indústria de ponta, capaz de competir em mercados globais e contribuir para a preservação ambiental. 

A mesa-redonda “Neoindustrialização no Brasil” deixou claro que o futuro da indústria nacional depende da capacidade de inovar e de adotar novos modelos econômicos que priorizem tanto a durabilidade quanto o uso consciente dos recursos. O caminho para essa transformação, no entanto, não será fácil, pois exige a construção de novos arranjos produtivos e a cooperação de diversos atores econômicos e sociais. 

Para quem deseja se preparar para esses novos desafios, a POLI USP PRO oferece o MBA em Engenharia de Produção, que capacita profissionais a liderar projetos industriais com foco em inovação, sustentabilidade e transformação digital. Conheça também nossos outros programas, como o MBA em Gestão de Projetos e o MBA em Data Science & Analytics para Operações, que fornecem as ferramentas necessárias para enfrentar os desafios da neoindustrialização e contribuir para um futuro mais sustentável e competitivo. 

Você também pode gostar desses conteúdos: 

Empreendedorismo na Engenharia: Inovação e Liderança 

Tomada de decisão e o grande volume de dados na era digital 

Os 10 segmentos que mais contratam engenheiros de produção 

Gostou deste conteúdo? Compartilhe!

A POLI USP PRO

A POLI USP PRO, a pós-graduação lato sensu a distância (EAD) do Departamento de Engenharia de Produção (PRO) da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, oferece cursos de MBA, proporcionando aos alunos uma experiência completa de ensino online, com possibilidade de networking, flexibilidade de horário e interação com professores e colegas em aulas ao vivo.