A sustentabilidade não é mais apenas um objetivo de longo prazo – ela se tornou uma necessidade imediata para o futuro da indústria e da economia. Nesse contexto, a neoindustrialização surge como uma estratégia essencial para o Brasil.
Este foi o tema central de uma mesa-redonda realizada no Enegep 2024, com a participação dos especialistas Celso Pansera, presidente da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), Francisco Lima, professor da Universidade Federal de Minas Gerais, e Francisco Duarte, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Eles discutiram como o país pode integrar sustentabilidade e cooperação no processo de modernização industrial, alinhado com os desafios globais.
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O papel da sustentabilidade na neoindustrialização
O debate começou com Celso Pansera, que destacou a urgência de o Brasil investir em uma indústria mais resiliente e sustentável. Segundo ele, o cenário global – impactado pela pandemia, pelas crises geopolíticas e pelas mudanças nas cadeias de suprimentos – revelou a necessidade de autonomia industrial.
“Descobriu-se que, em momentos de crise grave, os países precisam ter autonomia para a produção de bens essenciais dentro de suas fronteiras,” afirmou Pansera, ressaltando que a neoindustrialização precisa ser vista como uma resposta estratégica a essas crises.
Pansera também apresentou o programa de investimentos do governo brasileiro, que prevê R$ 342 bilhões até 2026 para fomentar a inovação, a transformação digital e a sustentabilidade nas indústrias nacionais.
“É um programa ambicioso do tamanho do Brasil”, declarou ele, destacando que a meta é modernizar o setor produtivo e prepará-lo para os desafios futuros. Ele ainda reforçou a importância de manufaturas com alto valor agregado, sugerindo que a integração de serviços com a indústria é uma tendência irreversível no novo cenário econômico global.
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Neoindustrialismo sustentável: repensando o modelo econômico
Em seguida, Francisco Lima trouxe uma crítica incisiva ao modelo econômico tradicional, que ele considera insustentável. Ele explicou que o crescimento econômico nas últimas décadas tem sido baseado em uma lógica de exploração de recursos naturais, o que gera impactos negativos tanto para o meio ambiente quanto para a sociedade. “Mesmo nos países desenvolvidos, o trabalho não faz sentido; as pessoas estão alienadas”, afirmou Lima, ressaltando a importância de repensar as relações de trabalho, produção e consumo.
Lima também defendeu que o desenvolvimento sustentável não deve ser apenas um crescimento quantitativo, focado em aumentar o PIB e a produção de bens materiais, mas sim um crescimento qualitativo, que leve em conta a preservação ambiental e a melhoria da qualidade de vida. “Precisamos sair da lógica da competição e abraçar a cooperação como uma forma mais eficaz de conduzir o desenvolvimento econômico,” disse ele, reforçando que é necessário integrar a sustentabilidade em todas as etapas da cadeia de valor.
Para Lima, o Brasil tem um papel estratégico a desempenhar nesse cenário, uma vez que possui recursos naturais abundantes e uma matriz energética mais limpa em comparação com outros países. Ele sugeriu que o país deveria focar no desenvolvimento de cadeias produtivas locais e na criação de arranjos industriais que combinem tecnologia, inovação e respeito ao meio ambiente.
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Economia da funcionalidade e da cooperação: uma nova abordagem para a indústria
Francisco Duarte finalizou o debate apresentando o conceito de economia da funcionalidade e da cooperação como uma alternativa ao modelo industrial tradicional. Segundo Duarte, a economia atual, que se baseia na obsolescência programada e na venda de produtos descartáveis, precisa ser substituída por um sistema que priorize a durabilidade e a utilidade dos produtos. “O que importa no produto é a utilidade e o serviço que ele presta”, explicou ele.
Um exemplo prático trazido por Duarte foi o caso de uma empresa francesa que produz scooters com durabilidade programada, onde a ideia não é vender o produto, mas sim alugá-lo, prolongando sua vida útil e reaproveitando suas peças. “Ao invés de vender o produto, a empresa aluga as scooters e mantém a propriedade, prolongando sua vida útil”, contou ele, sugerindo que esse tipo de modelo pode ser uma solução viável para enfrentar a obsolescência programada e reduzir o consumo de recursos naturais.
Duarte também destacou a importância da cooperação entre empresas, consumidores e o poder público, argumentando que essa colaboração é essencial para a construção de uma economia mais sustentável. “Confiança é o recurso imaterial mais difícil de ser construído, mas é essencial para o sucesso de uma economia baseada na cooperação,” concluiu.
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O futuro da neoindustrialização no Brasil
O consenso entre os palestrantes foi que as indústrias brasileiras precisam passar por uma transformação profunda, integrando sustentabilidade, inovação e cooperação. O país tem uma oportunidade única de se reposicionar no cenário global, aproveitando suas vantagens competitivas, como a biomassa e a energia limpa, para desenvolver uma indústria de ponta, capaz de competir em mercados globais e contribuir para a preservação ambiental.
A mesa-redonda “Neoindustrialização no Brasil” deixou claro que o futuro da indústria nacional depende da capacidade de inovar e de adotar novos modelos econômicos que priorizem tanto a durabilidade quanto o uso consciente dos recursos. O caminho para essa transformação, no entanto, não será fácil, pois exige a construção de novos arranjos produtivos e a cooperação de diversos atores econômicos e sociais.
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