A complexidade do mercado atual, aliada a desafios ambientais e sociais crescentes, exige profissionais que saibam integrar conhecimentos técnicos e estratégicos para promover sustentabilidade e inovação. O ex-aluno da POLI USP PRO, Clóvis Soares, traz essa abordagem ao integrar Pesquisa Operacional, Balanced Scorecard (BSC) e práticas ESG em seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), focado em uma indústria tradicional, porém cheia de desafios e oportunidades: a fabricação de pneus agrícolas.
Nesta entrevista exclusiva, Clóvis compartilha sua motivação, principais aprendizados, desafios enfrentados e a importância da formação oferecida pela POLI USP PRO para sua trajetória e impacto profissional. Uma leitura indispensável para quem deseja entender como a engenharia pode contribuir para a transformação sustentável das empresas e para o desenvolvimento de estratégias robustas em ambientes de alta complexidade.
Poli: O que te motivou a escolher um tema que integra Pesquisa Operacional, BSC e práticas de ESG? Houve algum insight específico que te levou a essa combinação?
Clóvis: Em minhas conversas na empresa com o conselho e C-level, percebi uma crescente preocupação com a preparação dos líderes para a tomada de decisões estratégicas em contextos de alta complexidade e crise. A prontidão e o alinhamento entre os pilares de direção, execução, gestão e liderança tornam-se decisivos para garantir que as decisões sejam não apenas bem fundamentadas, mas também eficazmente implementadas. E investir no fortalecimento desses pilares é essencial para que a organização avance com clareza, consistência e coesão. Por se tratar de uma indústria de transformação de artefatos de borracha para pneus agrícolas, diversos elementos se tornam inerentes em cada etapa do processo produtivo, como: calor, ruído, emissão de gases, odores, entre outros. Em decorrência disto, identificam-se parâmetros ambientais importantes que devem ser monitorados e controlados:
- Desafios com a NR-12 (Norma Regulamentadora n.º12): norma trabalhista que exige a implantação de equipamentos de proteção rigorosos em todas as máquinas industriais visando impedir acidentes de trabalho.
- Legislação e/ou Jurisprudência Trabalhista: reforma trabalhista de 2017 sob ‘desconstrução’ pelo Judiciário e atual Governo Federal; pensões vitalícias concedidas com maior frequência pelo Tribunal mesmo em caso de capacidade parcial de trabalho do trabalhador, EPI-Equipamento de Proteção Individual ‘sob questionamento’ da sua eficiência, o que pode gerar mais indenização aos trabalhadores que contraírem alguma doença em decorrência do trabalho.
- Localização da planta no centro da principal e mais importante metrópole do Brasil, a 5 min da Marginal Tiete a 1 min da Radial Leste, além de ser considerado patrimônio tombado, sugerem controles cada vez mais rigorosos exigidos pelas autoridades governamentais sobre licenças ambientais e de operação.
- Especulação imobiliária: cada vez mais edifícios residenciais em construção na cidade de São Paulo e outros a serem construídos, especialmente após a recente versão do Plano Diretor de São Paulo, o qual autoriza a construção de edifícios residenciais mais altos, mais próximos de estações de metrô e de grandes avenidas, trazem desafios logísticos para a operação da empresa no Brasil, bem como a presença de mais vizinhos na circunvizinhança onde a empresa atua.
Cabe salientar que, apesar do seu expressivo investimento e crescimento no Brasil nos últimos três anos, atualmente a empresa apresenta diversos desafios em sua estratégia de negócios potencializadas com base em cenários geopolíticos, socioeconômicos e de ordem pandêmica, que justificaram a elaboração desta pesquisa científica, dentre os quais destacam-se: I) retração de mercado na ordem de 20% em 2023, dados fornecidos pela Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (ANIP); II) grande aumento de pneus importados no Brasil devido à demanda requerida em 2022; III) estoques altos na rede de revendedores da empresa objeto do estudo, férias coletivas nas montadoras e concorrentes.
Poli: Quais foram os principais objetivos do seu trabalho e como você articulou os conceitos de Decisão Multicritérios, BSC e ESG na estrutura do estudo de caso?
Clóvis: Com base nessas problemáticas, o objetivo foi descrever como a aplicação de conceitos da área da PO, juntamente de análise de decisão multicritérios, combinadas ao BSC e às práticas de ESG, podem promover ganhos de produtividade e contribuir para a sustentabilidade de um negócio. Com a realização do estudo, pretende-se contribuir especialmente com a análise da crise inesperada no setor de artefatos de borracha instaurado no Brasil, desde janeiro de 2023, mediante a literatura e as discussões dos conhecimentos emergentes de um estudo de caso, explorando como os princípios da PO podem reforçar e melhorar alguns fatores-chave de sucesso do modelo BSC objetivando a sustentabilidade do negócio.
A pesquisa, em termos metodológicos, teve uma abordagem descritiva, de natureza aplicada, delineamento baseado em um estudo de caso e coleta de dados secundários.
Posteriormente, a revisão da literatura foi realizada para explorar o panorama existente sobre o tema da pesquisa. Isso envolveu uma análise de diversas fontes, como livros, artigos científicos, relatórios de pesquisa e materiais online relevantes.
A análise dos resultados contou com exposições estatísticas e análises gráficas desdobrado em quatro subtópicos: AFE – Análise Fatorial Exploratória, desdobramento do BSC – Balanced Scorecard, análise do modelo ESG – Environmental Social Governance e combinação das práticas PO – Pesquisa Operacional e BSC com o desempenho fabril.
Poli: Durante a pesquisa, quais desafios você encontrou na aplicação conjunta dessas metodologias em contextos reais de tomada de decisão empresarial?
Clóvis: Meu principal desafio como pesquisador após o delineamento do projeto com a orientadora, foi de convencer os tomadores de decisão que lidar com incertezas e riscos tornou-se uma habilidade essencial para profissionais no mundo todo, ou seja, um ativo estratégico. Mas também é um fator de proteção, que reduz riscos ao ampliar perspectivas e desafiar visões únicas através de planejamentos bem elaborados.
Poli: Quais soluções ou caminhos você propôs para superar esses desafios? Como essas soluções podem contribuir para a sustentabilidade do negócio?
Clóvis: Naturalmente, trabalhar bem a comunicação foi o primeiro passo. Também considerei relevante buscar conexões com os colegas e líderes internacionais para que eu entendesse como a empresa funciona globalmente, o que me fez enxergar na pesquisa, pontos cegos, acelerar decisões estratégicas e contribuir para construção de equipes mais inovadoras base ao novo posicionamento estratégico Global da companhia.
Poli: De que forma a abordagem multicritério fortalece o planejamento estratégico e o alinhamento com indicadores do BSC e metas de ESG?
Clóvis: Ela te dá previsibilidade, é muito importante ter uma visão ampla de negócios e acredito que as principais fortalezas de uma organização são as suas especialidades, que normalmente se tornam diferenciais para um novo posicionamento de mercado. Cada vez mais investimos em ter times diversos e heterogêneos. Nesse cenário, as experiências específicas alinhadas com as ferramentas da pesquisa ajudaram muito.
Poli: Houve alguma descoberta ou aprendizado marcante durante o desenvolvimento do TCC, especialmente ao integrar ferramentas da Pesquisa Operacional com práticas de gestão sustentável?
Clóvis: Sim, a partir dos resultados obtidos, sugerimos que pesquisas futuras abordem outros fatores que estão se intensificando, como, por exemplo, a oferta de pneus importados. Atualmente grande parte destas empresas de pneus importados já possuem uma rede de distribuição, equipes de vendas, pontos de vendas e inventário local, já instaladas no Brasil. Tal distribuição proporciona poder de barganha aos consumidores finais e, em paralelo, um grande desafio à organização estudada e aos demais fabricantes de pneus no Brasil.
Os resultados também evidenciaram que as práticas de ESG apresentam um nível de correlação alinhado tanto no desempenho operacional quanto no desempenho ambiental e de governança corporativa e, em tese, converge com a estratégia ESG da empresa.
Poli: Como as tecnologias atuais – como BI, IA ou sistemas de apoio à decisão – podem potencializar a aplicação prática do modelo proposto?
Clóvis: Na Indústria, a previsibilidade dos processos e a estrutura organizacional bem definida permitem um planejamento robusto de desenvolvimento e sucessão. Mas, ao mesmo tempo, a resistência a mudanças e a complexidade das operações exigem um posicionamento altamente estratégico. É por isso que as tecnologias atuais citadas nesta pergunta, não são apenas pilares de ESG/BSC ou de alguma modelagem composta por algoritmos para tomar uma decisão, é, antes de tudo, um compromisso com um mundo mais justo e com modelos de negócios mais inteligentes. Empresas diversas inovam mais, retêm talentos por mais tempo e constroem uma cultura mais forte. E, mais do que isso, tornam-se agentes de mudança social, porque refletem o mundo como ele é, não como um espelho limitado ao próprio crescimento.
Poli: Como você avalia o apoio recebido pela equipe da POLI USP PRO, tanto na orientação metodológica quanto na exploração prática dos temas abordados?
Clóvis: Excepcional, todos muito prestativos, responsáveis e compromissados. O que mais me chamou à atenção foi a atitude sempre generosa da minha Orientadora Nágela Bianca. Em meio à sua rotina igualmente exigente a minha de viagens e compromissos profissionais, ela fez questão de estar presente em um momento importante da minha trajetória. Só tenho a elogiar e parabenizar!
Poli: Como foi a experiência de apresentar seu trabalho à banca? Algum comentário ou pergunta chamou sua atenção e te fez repensar parte da análise?
Clóvis: Enriquecedor, me preparei muito! Com ajuda da minha orientadora Nágela Bianca a quem agradeço imensamente o apoio na estruturação da minha apresentação, alinhando o discurso a um storytelling ilustrado e de impacto. Falei sobre o que acredito. Falei como pai, pois as minhas filhas e minha esposa estavam me assistindo, como líder, sendo extremamente discreto, pois possuo acesso a informações estratégicas e confidenciais da empresa estudada e como entusiasta, que acredita em um mundo mais justo e relevante através do poder dos estudos e da ciência. Falando especialmente do comentário, chamou a minha atenção o parecer do membro avaliador Song Won Park que escreveu: “Parabéns pelo tema difícil e ousado com caso real de aplicação”. Na banca a dinâmica é outra. Precisamos ser ágeis, flexíveis e, acima de tudo, profundamente conectados com a pesquisa. Mas há um ponto de convergência essencial para o sucesso do trabalho, o professor(a) orientador, que sustenta junto ao aluno, todo o delineamento do trabalho.
Poli: Que conselhos você daria para alunos que desejam explorar temas interdisciplinares e atuais, como ESG e sustentabilidade, no desenvolvimento do TCC?
Clóvis: Super recomendo. Penso que são temas complexos e desafiadores, mas é justamente nesse lugar, onde as coisas são incertas e os riscos são maiores, que aprendemos, evoluímos e nos descobrimos. O crescimento não acontece no território conhecido, ele está nos caminhos que ainda não exploramos e muitas dessas inovações exigem uma nova maneira de repensar antigos modelos mentais de fazer negócios. Ao questionar nossas suposições, podemos abrir espaço para novas informações e evitar decisões baseadas em crenças desatualizadas ou incorretas. É a prática diária, o compromisso contínuo e a perseverança que, no final das contas, nos leva a alcançar nossos sonhos e metas.
Poli: Qual foi o aspecto mais valioso do MBA para você, especialmente no contexto da construção de um projeto tão integrado e estratégico?
Clóvis: Foram dois anos de imersão em estratégias para transformação organizacional, inovação e liderança em cenários complexos. Além do conteúdo de altíssimo nível, o networking com professores, estudantes e líderes de diferentes partes do mundo trouxe insights valiosos sobre os desafios e oportunidades que temos como agentes de transformação nas organizações.
Poli: Você recomendaria o MBA da POLI USP PRO para outros profissionais? Quais fatores mais pesaram na sua decisão e na sua experiência geral?
Clóvis: Certamente, compreender setores que representam a espinha dorsal do desenvolvimento econômico me permitiu identificar oportunidades, fortalecer conexões estratégicas e contribuir ativamente para resultados de alto impacto.
A importância de uma formação sólida e multidisciplinar
A trajetória de Clóvis Soares ilustra como uma formação sólida e multidisciplinar, aliada a uma pesquisa aplicada e orientada, pode gerar impactos reais e transformadores no mercado. A capacidade de integrar metodologias avançadas e práticas sustentáveis é cada vez mais essencial para líderes que desejam atuar em ambientes complexos e dinâmicos.
Na POLI USP PRO, nossos MBAs preparam profissionais para esses desafios, desenvolvendo competências técnicas e estratégicas para inovar e liderar em seus setores. Quer transformar sua carreira e fazer a diferença?
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